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O Peso da Realidade e a Verdadeira Felicidade

Vivemos em uma era em que se fala muito sobre a busca pelo "mundo ideal". Queremos uma vida perfeita, sem dificuldades, sem esforço, sem sacrifícios. No entanto, essa visão utópica nos distancia da verdadeira felicidade, que não está em um futuro inalcançável, mas na aceitação plena da realidade que nos cerca.


Todos os dias, ao ler as cartas de Santa Teresinha, encontro reflexões profundas sobre a vida e o sentido da existência. Em uma delas, ela fala sobre a "esperança cega na misericórdia", uma confiança absoluta em Deus e na realidade que Ele nos oferece. Essa ideia nos leva a um questionamento essencial: como podemos encontrar felicidade na vida que temos hoje, em vez de buscá-la em um ideal inexistente?


Os Três Apetites da Alma: O Que Nos Move?


Desde os tempos da Grécia Antiga, os filósofos já tentavam compreender o que impulsiona o ser humano. Platão e Aristóteles falavam sobre três tipos de apetites que nos movem:


  1. O Apetite Concupiscível – ligado ao prazer e ao desejo pelo conforto imediato. Esse apetite nos faz buscar comida, descanso e prazeres sensoriais. Não é algo ruim por si só, mas, quando descontrolado, pode nos tornar escravos do prazer.

  2. O Apetite Irascível – relacionado à superação de desafios e à vontade de vencer. Aqui encontramos a força que nos impulsiona a lutar, persistir e superar dificuldades. É o apetite que move atletas e guerreiros, mas que, quando exacerbado, pode nos tornar obcecados por poder e status.

  3. O Apetite Racional – o mais elevado, pois está ligado à busca pela verdade e pela sabedoria. Ele nos permite enxergar a realidade como ela é, governando os outros dois apetites e guiando nossas decisões pelo bem verdadeiro.


Os gregos acreditavam que uma vida equilibrada seria aquela em que o apetite racional estivesse no comando. Isso significa que, em vez de sermos dominados por prazeres momentâneos ou pelo desejo desenfreado de poder, deveríamos buscar a verdade, compreender a realidade e agir de acordo com ela.


O Peso da Realidade: Aceitar para Viver Melhor


Ao refletirmos sobre a ideia de um "mundo ideal", percebemos que essa busca muitas vezes nos afasta da felicidade real. Criamos expectativas irreais e nos frustramos quando a realidade não se encaixa em nossos sonhos. A verdade é que não existe um mundo sem dificuldades, sem desafios, sem obrigações. O que existe é o mundo real, com suas dores e alegrias, e é nele que devemos encontrar sentido.


Santa Teresinha ensina algo fundamental: a verdadeira paz está em aceitar a realidade com alegria. Ela dizia que sua maior consolação era "não ter consolação alguma", ou seja, não esperar recompensas imediatas, mas simplesmente fazer o que devia ser feito, com amor e dedicação.


Essa aceitação da realidade não significa resignação passiva. Pelo contrário, é uma entrega ativa, uma escolha de viver plenamente o momento presente, encontrando sentido até mesmo nas tarefas mais simples do dia a dia. Acordar cedo, trabalhar, pagar contas, cuidar da casa – tudo isso pode ter um sabor especial quando é feito com a consciência de que faz parte da nossa missão no mundo.


A Cidade Ideal: Governada pela Razão e pela Verdade


Platão também refletiu sobre a sociedade ideal e concluiu que ela deveria ser governada pelos filósofos, aqueles que buscam a verdade e a sabedoria. Isso porque, quando a sociedade é guiada pelo apetite concupiscível, torna-se superficial e hedonista; quando é comandada pelo apetite irascível, transforma-se em um sistema de dominação e luta pelo poder. Apenas a razão e a verdade podem garantir uma sociedade justa e equilibrada.


Esse pensamento se aplica não só às sociedades, mas também às nossas vidas individuais. Quando deixamos que os prazeres momentâneos ou a busca incessante por status nos governem, acabamos nos afastando do que realmente importa. Para viver bem, precisamos colocar a razão no comando, enxergar a realidade como ela é e agir com base na verdade.


O Cubismo e a Ilusão do "Outro Mundo"


A tentativa de criar um "mundo ideal" muitas vezes nos leva a distorcer a realidade. Um exemplo interessante disso está na arte cubista, que busca representar um objeto sob todos os ângulos possíveis ao mesmo tempo. O resultado? Imagens desconexas, sem harmonia, que não correspondem à realidade.


O mesmo acontece quando tentamos criar uma vida baseada em ideais utópicos. Perdemos o contato com o que é concreto, nos frustramos por não alcançarmos o impossível e deixamos de viver plenamente o presente. O verdadeiro prazer da vida está em aceitar a realidade como ela é e encontrar beleza nela, em vez de tentar inventar uma nova versão do mundo.


A Asa da Águia: O Peso que Nos Faz Voar


Para encerrar, há uma metáfora poderosa que nos ajuda a entender tudo isso: as asas da águia. São pesadas, carregam um grande fardo, mas é exatamente esse peso que permite que a águia voe alto. Da mesma forma, as dificuldades da vida podem parecer um fardo, mas são elas que nos elevam, nos tornam mais fortes e nos fazem crescer.


O dever diário pode ser cansativo, as responsabilidades podem parecer pesadas, mas são esses desafios que dão sentido à nossa existência. Quando aceitamos o peso da realidade e encontramos alegria em cumpri-lo, descobrimos o verdadeiro gosto da vida.


Conclusão: Viver o Presente com Esperança Cega na Realidade


Em vez de buscar um mundo ideal, devemos aprender a enxergar a beleza do mundo real. Em vez de fugir das dificuldades, devemos abraçá-las como parte essencial do nosso crescimento. A felicidade não está em uma utopia distante, mas na forma como encaramos o que temos hoje.


Santa Teresinha nos ensina que a "esperança cega" não é esperar um futuro perfeito, mas confiar na realidade e agir com amor no presente. Quando fazemos o que deve ser feito, com dedicação e alegria, encontramos a verdadeira paz e vivemos de fato a melhor vida possível – não a vida ideal, mas a vida real.


E então, qual é o seu dever hoje? Que tal fazê-lo com prazer e gratidão?

 
 
 

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